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X FÓRUM DE PESQUISA EM ARTES II Jornada Arte Educação do PROFARTES

  • Publicado: Terça, 21 Março 2023 14:19
  • Última Atualização: Terça, 21 Março 2023 14:21
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Muito tem sido dito acerca do efeito agravador e, ao mesmo tempo revelador, da pandemia do coronavírus sobre problemas que já há tempos nos afligem. A deterioração de sistemas de conhecimento e de produção vitimados pela colonialidade, motor da empreitada capitalista moderna, que, apenas recrudesce em tempos de capitalismo avançado; as marcas irrefutáveis – e nefastas – da presença humana no planeta, que chegam se configurar como uma era geológica, o Antropoceno; a ameaça global às democracias com a precarização do trabalho, a descartabilidade de vidas humanas, as necropolíticas.

A crise sanitária que mal atravessamos, e que dá sinais de não ter sido completamente superada, soma-se a essas questões e parece funcionar como um intensificador de todas elas, ou, como um revelador, uma espécie de oráculo trágico que nos assombra ao nos fazer ver que não há outra saída a não ser o enfrentamento de uma realidade na qual somos chamados à responsabilidade, um momento em que nos é cobrada a atitude ética, a escolha de que humanos seremos de agora em diante. Será este o ponto de inflexão a partir do qual reinventaremos mundos e modos de viver?

Os anos de isolamento impostos pelos protocolos sanitários contribuíram para escancarar ainda mais nossas misérias existenciais e materiais, num contexto em que ficar em casa, palavra de ordem, para muitos ao redor do mundo, simplesmente não foi possível por razões tão cruas quanto não se ter casa ou não se poder dar ao luxo de não sair para procurar os meios de sobrevivência. O negacionismo que impregnou as políticas de enfrentamento dessa crise no Brasil contribuiu para o seu agravamento e para um retardo maior na retomada das atividades em ambientes públicos.

Sabemos que tudo isso teve um impacto profundo nas vidas de quem, neste país, vive e trabalha com artes. Artistas e produtores de arte em geral vimo-nos privados das possibilidades convencionais de trabalho, do contato com os públicos e, para muitos, mesmo da criação, impedidos de nos encontrar para ensaios ou para simples conversas com os parceiros, das quais muitas vezes a obra coletiva ou individual se nutre. Teatros, casas de show, galerias fechadas, ruas desertas e proibidas. Vimos a reprodução da nossa vida material ameaçada para além do risco da doença, que, de fato, levou muitos de nós. As políticas públicas negacionistas atingiram-nos também e a fragilidade dos lugares que ocupamos como trabalhadores das artes se viu escancarada pela demora e fragilidade das políticas públicas voltadas para o setor, apenas garantidas com muita luta e na contramão da lógica de um governo para o qual a arte – e, principalmente, os artistas – parecem ser vistos como inimigos.

Contudo, encontramos saídas. Inventamos ou intensificamos outras formas de viver e trabalhar, aprofundamos as discussões éticas e estéticas que marcam os nossos fazeres, lançamos mão das ferramentas digitais como meio de uma nova aproximação, expandimos nossos tempos e espaços no ambiente virtual, reformulamos as questões filosóficas sobre ele e as suas potências artísticas e políticas, reinventamos muitas vezes as noções de intimidade, as nossas formas de atuação coletiva em redes, nossos corpos e modos de criar e ocupar o espaço público. Enfrentamos as políticas de morte. Não se trata de afirmar uma vitória heroica, não há vitória possível em tal contexto histórico. A única que podemos reivindicar é a de continuarmos a buscar outros mundos possíveis a partir das condições materiais que temos.

O X Fórum Bienal de Pesquisa em Arte: Arte e Pensamento Contemporâneo em Revisão / III Encontro Regional ANPAP Norte - Belém - PA convida a uma reflexão sobre o que tem sido a arte destes tempos pós-pandêmicos. Que perguntas temos feito, que caminhos foram abertos ou transformados, que éticas, que forças e potências ganhamos ou perdemos? De que lugares falamos, que interseccionalidades nos atravessam, como nossos modos de fazer e de viver resistiram ou pereceram? Essas e outras inquietações serão bem vindas na forma de atos poéticos, comunicações, pôsteres e mesas-redondas no período de 22 a 25 de março de 2023.

Link da programação completa

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